Leandro Karnal: “Quanto mais inteligente, menos sociável”

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Pessoas inteligentes tendem a ter menos amigos

Um novo estudo descobriu por que gênios tendem a ser solitários. De acordo com uma pesquisa publicada recentemente na revista científica British Journal of Psychology, quanto mais as pessoas muito inteligentes precisarem socializar, menos satisfeitas elas estarão com a vida.

Para chegar aos resultados, os psicólogos evolucionistas Satoshi Kanazawa, da London School of Economics, na Grã-Bretanha, e Norman Li, da Universidade de Administração de Singapura, em Singapura, questionaram 15.000 pessoas, com idade entre 18 e 28 anos, sobre a felicidade. Foram analisados também dados como a densidade populacional do local onde os voluntários viviam e a frequência de interação com os amigos.

O estudo se baseou na teoria da savana, proposta em 2004 por Kanazawa. Segundo a tese, ancestrais que viviam na savana Africana precisavam ser sociáveis para sobreviver a um ambiente hostil. Naquele tempo, a população era escassa, com cerca de 150 integrantes por grupo. Os pesquisadores acreditam então que, por causa da herança ancestral, a maioria das pessoas atualmente relata sentir-se mais feliz quando vive em lugares com menor densidade demográfica e quanto mais convive com amigos e familiares.

O que o novo levantamento mostrou, contudo, é que isso não se aplica para aqueles que são muito inteligentes. No caso de pessoas com QI muito alto, a densidade demográfica baixa não aumenta a sensação de felicidade.

Além disso, quanto mais elas precisam socializar com outras pessoas, a satisfação delas com a vida tende a ser menor. “O efeito da densidade populacional na satisfação com a vida era mais de duas vezes maior para os indivíduos de baixo QI do que para os indivíduos com QI mais alto. E indivíduos mais inteligentes eram, na verdade, menos satisfeitos com a vida se socializavam com seus amigos com mais frequência”, escreveram os autores.

Fragmento da palestra “Ler é Viver” – Leandro Karnal:

George Perry: “Podemos reduzir o risco de Alzheimer só ao mudar o estilo de vida”

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Fotografia: Orlando Almeida/Global Imagens

 

O diretor da Faculdade de Ciências da Universidade do Texas é, possivelmente, a pessoa que mais sabe sobre Alzheimer no mundo. O lusodescendente George Perry tem o recorde de estudos publicados sobre a doença, assinou mais de mil publicações científicas e foi citado cerca de oitenta mil vezes. Mas o investigador é também uma das vozes mais rebeldes sobre o tema. Garante que há esperança na prevenção, mas lembra que ainda estamos longe da cura.

 

Entrevista de Maria Espírito Santo (Notícias Magazine) 

 

A corrente atual defende que é uma proteína que se desenvolve no cérebro, a beta-amiloide, que causa a doença de Alzheimer. George Perry, diretor da Faculdade de Ciências da Universidade do Texas (em San Antonio), discorda. «Estão a perder tempo e recursos», diz numa longa conversa na Fundação Champalimaud, onde esteve em setembro para a Alzheimer’s Global Summit.

Neto de portugueses das ilhas açorianas do Pico e de Santa Saria – diz, a brincar, que podia chamar­‑se Jorge Pereira –, é um dos nomes mais sonantes da National Organization of the Portuguese­‑Americans e mantém uma estreita relação com o país dos antepassados: é jurado da Santa Casa da Misericórdia para o prémio anual de Neurociências. Biólogo marinho, decidiu cedo que queria ser cientista, quando já empunhava uma arma para caçar e depois examinar os animais. Entrar para a investigação do Alzheimer foi um acaso: pouco sabia sobre o cérebro humano quando começou.

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O poder leva à perda de capacidades mentais

Cientistas que estudaram o cérebro de gente poderosa verificaram que o poder torna as pessoas mais impulsivas, menos conscientes do risco, e com pouca paciência para se colocarem na pele dos outros. O poder causa danos no cérebro? Parece que sim.

 

O poder causa danos no cérebro? A pergunta soou no meio científico, fizeram-se estudos e mais estudos, experiências de campo, e tudo indica que o poder tem efeitos secundários. Na cabeça e no comportamento.

Os líderes vão perdendo capacidades mentais, começam a ter dificuldades em ler os outros, em colocar-se no lugar do outro. Tornam-se mais impulsivos, a empatia começa a perder significado, perdem contacto com a realidade. Tornam-se mais imprudentes. O poder é como uma droga.

A revista norte-americana The Atlantic escreveu sobre isso e lembrou a frase do historiador Henry Adams que, certo dia, disse que o poder era «uma espécie de tumor que acaba por matar as simpatias da vítima.» A frase não é totalmente desfasada da realidade.

Segundo a publicação norte-americana, Dacher Keltner, professor de psicologia da Universidade de Berkeley, analisou vários estudos e experiências de campo que indicam que pessoas sob influência do poder ficavam como se tivessem sofrido uma lesão cerebral: mais impulsivas, menos conscientes do risco, menos capazes de ver o mundo sob o olhar dos outros.

Estudos demonstram que pessoas sob influência do poder ficam como se tivessem sofrido uma lesão cerebral: mais impulsivas, menos conscientes do risco, menos capazes de ver o mundo sob o olhar dos outros.

Keltner encontrou o paradoxo do poder, ou seja, os poderosos vão perdendo capacidades importantes para alcançar esse mesmo poder. Sukhvinder Obhi, neurocientista da Universidade McMaster, em Ontário, Canadá, conclui que os poderosos perdem essa capacidade de se olharem ao espelho, de se colocarem na pele do outro, a empatia e sintonia com os outros. Há experiências que revelam que as pessoas poderosas têm maiores dificuldades em identificar o que alguém sente ou adivinhar como um colega interpreta o que vê.

O poder, segundo alguns estudos, ativa o cérebro para detetar informações periféricas. O que pressupõe que a persuasão entra em ação e que não seja assim tão importante ler os outros, ou perceber o que pensam. Mas a perda de noção da realidade pode ser perigosa e os poderosos podem atravessar uma linha arriscada, para uma certa loucura contraproducente.

Há cientistas que falam mesmo numa desordem de posse do poder, daquele poder de sucesso irresistível, e as características clínicas dessas cabeças indicam desprezo pelos outros, perda de contacto com a realidade, ações imprudentes, demonstrações de incompetência.

O poder afeta o cérebro, mas é possível que os líderes pensem, de vez em quando, que não são poderosos? É possível. No entanto, para o psicólogo Keltner, o poder entranha-se e torna-se um estado mental.

 

Fonte: Notícias Magazine.

Estudo revela que praticar actos de generosidade traz felicidade

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Reprodução/Flickr/Goutler Rodrigues.

Em experimento, voluntários relataram seu próprio nível de felicidade após cada ato de generosidade.

Se pressupormos que o comportamento humano é motivado principalmente pelo interesse pessoal, parece ilógico sacrificar voluntariamente os recursos pelos outros.

Na tentativa de resolver esse paradoxo, alguns especialistas formularam a teoria de que doar ou presentear satisfaz o desejo de elevar a posição do indivíduo em um grupo. Outros sugeriram que o ato promove a cooperação tribal e a coesão – um elemento-chave na sobrevivência dos mamíferos. Outra explicação é que doamos apenas porque esperamos receber algo em troca. Um estudo publicado recentemente sugere que a resposta pode ser muito mais simples: doar nos deixa feliz.

Os cientistas realizaram um experimento em um laboratório em Zurique, na Suíça, com 50 pessoas que relataram seus próprios níveis de felicidade após atos de generosidade. Consistentemente, eles indicaram que doar era uma experiência de bem-estar.

Imagem do cérebro

Ao mesmo tempo, os exames de ressonância magnética revelaram que uma área do cérebro ligada à generosidade desencadeou uma resposta em outra parte relacionada à felicidade. “Nosso estudo fornece evidências comportamentais e neurais que apoiam a ligação entre generosidade e felicidade”, escreveu a equipe na revista científica “Nature Communications”.

Os pesquisadores informaram aos participantes que cada um deles teria à disposição um valor de 25 francos suíços (US$ 26) por semana durante quatro semanas.

Metade dos participantes foram convidados a se comprometer a gastar o dinheiro com outras pessoas, enquanto o resto poderia planejar como gastariam o dinheiro com eles próprios. Nenhum dinheiro foi realmente recebido ou gasto por nenhum dos dois grupos.

Depois de se comprometerem com os gastos, os participantes responderam às perguntas enquanto seus cérebros estavam sendo examinados. As perguntas evocaram cenários que opunham os próprios interesses dos participantes contra os interesses dos beneficiários da sua generosidade experimental. Os pesquisadores examinaram a atividade em três áreas do cérebro – uma ligada ao altruísmo e ao comportamento social, uma segunda à felicidade e uma terceira área envolvida na tomada de decisões.

A equipe descobriu que o grupo que se comprometeu a doar o dinheiro relatou estar mais feliz do que os que iam gastar a quantia com eles próprios.

As descobertas têm implicações para a educação, política, economia e saúde pública, segundo os pesquisadores. “A generosidade e a felicidade melhoram o bem-estar individual e podem facilitar o sucesso social”, escreveram.

 

Fonte: Publicado por France Presse, via Pavablog.

O difícil trabalho dos psicólogos do INEM

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Depois do pior incêndio de que há memória em Portugal, voltou a falar-se do que é preciso fazer: enterrar os mortos, cuidar dos vivos, ajudar a reconstruir as paredes, o corpo, a alma. Quem são os psicólogos de que tanto se falou e como prestam socorro às vítimas de stress agudo? O INEM tem uma das poucas equipas de psicologia de emergência no mundo que faz isto todos os dias.

A tragédia entrou-nos pelos olhos dentro. E com ela, o aparato de pessoas a dar resposta a uma das maiores catástrofes das últimas décadas em Portugal: bombeiros, militares, polícia, proteção civil, médicos, enfermeiros, técnicos de emergência pré-hospitalar, pilotos, assistentes sociais, investigadores, políticos, peritos forenses. Mas também uma equipa que, não por acaso, poucos viram e de pouco se fala (exceção às declarações, no início da semana, do presidente do PSD, Pedro Passos Coelho): os psicólogos de emergência do INEM.

O Centro de Apoio Psicológico e de Intervenção em Crise (CAPIC) apoia vítimas de eventos traumáticos e os próprios elementos da instituição que são confrontados com situações mais exigentes. Para entender a essência do trabalho que desenvolvem, é preciso pensar que, naquele fatídico sábado, as pessoas que estavam na zona de Pedrógão Grande passaram a manhã a fazer coisas prosaicas – varrer a casa, a regar a horta, a rir com a vizinha, a combinar com os filhos um almoço na semana seguinte. Horas depois, muitas delas não tinham casa, não tinham horta, não tinham vizinha, não tinham filha e não haveriam de fazer na próxima semana nada daquilo que tinham planeado naquela manhã. Estavam vivos, mas a vida como a conheciam tinha sido consumida pelas chamas.

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Reconhecer o erro faz bem

 

Estudos demonstram que o arrependimento não é só uma sensação ruim, mas também um processo necessário para o amadurecimento da capacidade de tomar decisões

Do ponto de vista evolutivo, o arrependimento por ter tomado uma decisão errada está associado à preservação da espécie. Embora seja desagradável, esse sentimento tem enorme importância, já que deveríamos tirar dele lições e, assim, correr menos riscos de sofrer decepções quando novamente precisarmos fazer escolhas no futuro. Os mais habilidosos para tomar decisões contariam com uma espécie de “superioridade”, teriam maiores chances de viver mais, de forma saudável, e, consequentemente, transmitir seus genes.

Hoje, numerosos estudos mostram que pessoas com lesão no lobo orbitofrontal apresentam grande dificuldade para tomar decisões que as beneficiem e, por isso, tendem a perder o emprego, são incapazes de manter relações pessoais estáveis e fazem repetidamente investimentos financeiros desastrosos. Porém, essa anomalia não resulta de falta de conhecimento, criatividade ou inteligência.

O neurocientista António Damásio, professor de psicologia e neurologia da Universidade do Sul da Califórnia em Los Angeles, acredita que o problema está relacionado a um déficit emocional. Esses pacientes seriam incapazes de produzir “marcadores somáticos”, isto é, reações emocionais manifestadas quando antecipamos uma decisão, as quais nos previnem dos resultados prováveis da escolha que nos preparamos para fazer (por exemplo, o desconforto que sentimos diante da ideia de repreender severamente um amigo).

Estudos desenvolvidos pela neuropsicóloga Angela Sirigu, em parceria com os neuroeconomistas Giorgio Coricelli e Nathalie Camille, então do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), sugerem que o arrependimento constitui um marcador somático controlado primeiramente pelo córtex orbitofrontal – daí lesões nessa região acarretarem consequências tão específicas.

Essa área teria se tornado muito importante por conduzir todas as situações de escolha, produzindo os “arrependimentos antecipados” − daí a sensação desconfortável, uma espécie de “efeito colateral” de nossa capacidade de fazer escolhas. Inversamente, as pessoas incapazes de se arrepender tomam decisões que com frequência lhes trazem dificuldades.

 

Fonte: Mente Cérebro.

A Internet faz com que as pessoas se sintam mais inteligentes do que realmente são…

 

 

Ilusão on-line: a Internet faz com que as pessoas se sintam mais inteligentes do que realmente são

Há um par de décadas abriu-se ao mundo uma inédita arca de “pré-conhecimento”, isto é, de informação. De repente uma infinita enciclopédia atualizada em tempo real ficou disponível, e com esta explosão de informação o nível popular de sapiência cresceu de forma literalmente espetacular -não só pela dimensão senão por que também remete a uma espécie de ilusão.

Dispor de tal quantidade de dados nos empodera, um fenômeno que implica um duplo fio. Por um lado estimula a sede de conhecimento e faz de muitos de nós potenciais navegadores informativos, mas por outro gera a ilusão de que sabemos mais do que em realidade sabemos. O que acontece é que quando alguém busca informação ocorre um fenômeno no qual ele acha que seu conhecimento se funde com a informação disponível na fonte onde busca.

Recentemente foi publicado um estudo realizado pela Universidade de Yale que demonstra o anterior. Em uma série de nove experimentos os pesquisadores comprovaram que aquelas pessoas que dispunham de informação proveniente da internet, consideravam saber mais que aquelas que recebiam a informação de outros lugares, inclusive de livros técnicos.

Matthew Fisher, que encabeçou o estudo, afirmou:

– “Este efeito demonstrou ser bastante robusto, e replicou-se todas as vezes. As pessoas que buscam informação tendem a combinar ou confundir seu próprio conhecimento com aquele que têm disponível”.

Por exemplo, em um dos experimentos uma parte dos voluntários buscou na rede a resposta à pergunta “Que é um zíper?“, e o grupo de controle recebeu diretamente a resposta sem tê-la procurado. Posteriormente, quando perguntaram a ambos os grupos o que entendiam do conceito, aqueles que obtiveram a resposta buscando on-line demonstravam muito maior confiança que aqueles que receberam exatamente a mesma informação, mas sem a internet no meio. Isto ocorreu inclusive nos casos em que alguns do último grupo nem sequer tinham achado uma resposta precisa à pergunta.

Este fenômeno se torna inoportuno e enfadonho dentro da área técnica e acadêmica. Eu trabalho com cálculos elétricos e eletrônicos há muitos anos e de vez em quando tenho que escutar “profissionais” desqualificados dizendo que “Você não entende nada, eu vi isso na internet e não tem nada a ver com que você está dizendo“.

Ademais, há casos em que esses “iluminados” querem revogar leis estabelecidas da física, quando não sabem nem o que significa Lei de Newton, Ohm, Mendel, Termodinâmica, etc. Você tenta explicar que suas postulações são impossíveis e o “luzidio” recorre a estapafúrdias citações que misturam esoterismo com física quântica (exatamente por isso, às vezes, Planck é chamado de “pai dos burros”).

– “Os efeitos cognitivos de “estar em estado de busca” na internet podem ser tão poderosos que as pessoas se sentem mais inteligentes ainda quando suas buscas on-line não revelam nada”, adverte o psicólogo e linguista Frank Keil, que ademais confessa que quando ficou sem internet durante alguns dias por causa de um furacão, teve a sensação de estar se tornando cada vez mais estúpido.

Fonte: Negócio Digital.

…e promove a “desigualdade cognitiva”

Internet: inteligentes mais inteligentes e tontos mais tontos

Em um fenômeno que poderia equiparar-se à desigualdade econômica propiciada pela globalização, e que talvez surpreenda alguns ou confirme o que muitos outros já suspeitavam, Kevin Drum sugere que, umas das possíveis transformações que a Internet está operando nas mentes humanas, as pessoas sapientes se tornam mais inteligentes e os tontos em mais burros, ampliando mais ainda a brecha da desigualdade cognitiva.

Isto tomando como referência pelo menos uma prática mais que freqüente quando se navega na Rede: a ação de buscar.

– “Um site pode fornecer uma resposta sumamente precisa, mas espetacularmente equivocada”, escreve o especialista, que acredita que a Internet contribui para ampliar o que chama de “desigualdade cognitiva”, um fosso cada vez maior que separa os inteligentes dos menos preparados, sobretudo em um aspecto muito particular: a capacidade de formular perguntas corretas para obter a resposta necessária.

Moral da história: Se não souber como usar ou não tem capacidade de realizar as perguntas corretas, terminará com a cabeça cheia de informação sem pé e nem cabeça. Mas se souber o que procura e como fazê-lo, terá um compêndio infinito de informação relevante.

Os resultados de suas buscas sempre retornam o que procura ou acaba se perdendo em assuntos irrelevantes às necessidades?

 

Fonte: DSinfo, via Metamorfose Digital. 

Rui Costa: “As neurociências ensinaram-me a fazer menos julgamentos sobre os outros”

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Rui Costa, que dirige um grupo de investigação no centro de neurociências da Fundação Champalimaud, fala em entrevista ao DN do seu trabalho, de algumas das suas descobertas e desse órgão complexo e maravilhoso que é o cérebro humano

Na Guarda, onde nasceu e cresceu, e na aldeia dos pais, lá perto, Rui Costa aprendeu a amar a natureza. Na televisão, David Attenbouroug falava-lhe doutros mistérios e ele acabou por ir para veterinária, para poder estudar o comportamento animal. Daí às neurociências foi um passo. Já fez várias descobertas, algumas das quais poderão conduzir a novas terapias para doenças como a de Parkinson, ou os distúrbios da compulsão. Dirige um grupo de investigação na Fundação Champalimaud. É lá, no seu gabinete fronteiro ao Tejo, que nos encontramos, numa manhã cheia de sol.

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As pessoas mais inteligentes precisam de mais tempo sozinhas

© Ilya Naymushin / Reuters

E lidam melhor com o reboliço dos grandes centros urbanos, onde a maioria da população é mais infeliz do que nos meios rurais. As conclusões são um estudo de dois psicólogos evolucionistas que relacionam a inteligência com as experiências sociais e a densidade populacional

 A socialização, a partilha e a amizade – três das características que mais nos definem enquanto seres sociais. Mas se parte da nossa felicidade vem da socialização, a ciência veio provar que esta ideia não se aplica em casos de pessoas muito inteligentes.

Dois psicólogos evolucionistas – Norman P. Li, da Singapore Management University, e Satoshi Kanazawa, da London School of Economics and Political Science – chegaram a estes dados depois de estudarem os casos de 15 mil jovens adultos (entre os 18 e os 28 anos).

A proposta do estudo baseia-se na chamada “teoria da felicidade da savana”, que tem em consideração não apenas os contextos atuais, mas também as consequências ancestrais no que toca à satisfação dos indivíduos perante a vida – o que procura explicar é a forma como essas consequências ancestrais interagem com a inteligência.

Os investigadores escolheram dois fatores para relacionar com o nível de satisfação, em testes empíricos: densidade populacional e frequência da socialização com amigos. Quanto à densidade populacional, chegaram à conclusão que tende a ser duas vezes mais um fator de insatisfação para os indivíduos de QI mais baixo do que para os de QI mais elevado. Mas o dado talvez mais interessante do estudo está no fator socialização, que parece ser uma fonte muito menor de satisfação para as pessoas de QI mais elevado. Estar com os amigos pode mesmo tornar estas pessoas mais infelizes, segundo as conclusões apresentadas.

A explicação mais simples apontada para justificar estes resultados tem por base o facto de as pessoas mais inteligentes terem frequentemente aspirações mais elevadas e preferirem usar mais o seu tempo para trabalhar nos seus objetivos do que para socializar.

Além disso, para os nossos antepassados, segundo explicam os autores, “era fundamental manter amigos e aliados de longa data para sobreviver”, na lógica de grupo. Foi, aliás, assim que nasceu a nossa condição de seres sociais, como reflexo das alianças antigas que mantínhamos em pequenos grupos fechados de relações fortes.

Ou seja, também aqui importa considerar a evolução da espécie. Dantes não tínhamos iPhones nem comida processada e é bem provável que haja, sugerem os autores, um desalinhamento entre as funções para as quais os nossos corpos foram desenvolvidos e o mundo em que a maioria de nós vive agora. Daí que os cérebros mais inteligentes e evoluídos se adaptem com mais facilidade às novas realidades e às constantes mudanças do mundo moderno.

No que respeita ao fator densidade populacional, os autores do estudo referem: “Os residentes das zonas rurais são mais felizes do que os residentes dos subúrbios, que, por sua vez, são mais felizes do que os habitantes das pequenas cidades centrais. E estes são mais felizes do que os residentes em grandes cidades centrais”. Mas os muito inteligentes fogem a estas “regras”.

A densidade populacional explica-se como fator de insatisfação de forma relativamente simples e óbvia. São várias as respostas sociológicas para este problema e passam sobretudo pelo stresse associado à grande aglomeração de pessoas: filas, trânsito, poluição ambiental e sonora, sensação de falta de tempo constante ou sensação de pequenez no meio da multidão.

Para justificarem o facto de as pessoas mais inteligentes sofrerem menos com estas vivências, os investigadores já voltam a sugerir uma explicação mais complexa e de teor evolucionista, assente na ideia de que a vida mudou muito desde o início da espécie. Dantes a vida era partilhada com pouca gente – “viviam e caçavam em grupos de cerca de 150 pessoas”, escrevem os autores. E é possível que os cérebros de QI mais elevado sejam mais evoluídos e, por isso, se adaptem melhor à realidade de hoje, mesmo nos grandes centros urbanos. Sentindo-se menos sufocados e mais tranquilos com o crescimento e a densidade populacional em seu redor.

 

Fonte: Visão.

Por que é que há canções que se colam à nossa cabeça durante um dia inteiro?

Uma equipa de cientistas procurou a resposta e diz que são geralmente canções com andamento rápido, uma forma melódica vulgar, mas intervalos e repetições incomuns. A campeã actual destas “canções pegajosas” é Lady Gaga.

Lady Gaga tem três canções na lista elaborada pelos investigadores REUTERS/TORU HANAI

Estamos descansados a pensar na vida, ou descansados da vida no chuveiro, e a cabeça é invadida pelo som de uma canção, aquela canção, a da melodia que não nos largará até que o dia acabe. Acontece a todos e da ocorrência não vem mal ao mundo, mas que irrita, irrita. Kelly Jakubowski, investigadora principal do Departamento de Música da Universidade de Durham, Inglaterra, não nos salvará das canções que nos invadem o cérebro sem convite durante dias a fio, mas a sua equipa explica quais as características musicais que conduzem a que tal aconteça. E revela que, em tempos recentes, Lady Gaga pode bem ser coroada a rainha do fenómeno.

A informação para o estudo foi recolhida entre 2010 e 2013 a partir de um grupo de estudo de três mil pessoas, que foram questionadas sobre os seus mais frequentes otovermes, para usar o adequadíssimo neologismo cunhado por Miguel Esteves Cardoso nas páginas do então jornal Blitz, hoje revista, há cerca de uma década. Em seguida, essas canções foram comparadas com outras que, não tendo sido nomeadas, se equivaliam em popularidade e em proximidade temporal quanto à presença nas tabelas de vendas inglesas (o estudo circunscreveu-se a público inglês e alemão e aos estilos musicais mais ouvidos no Ocidente, o rock, pop, hip hop e R&B).

“Estas canções musicalmente pegajosas têm um andamento rápido, reunido a uma forma melódica vulgar e a intervalos e repetições incomuns, como podemos ouvir no riff de abertura de Smoke on the water, dos Deep Purple, ou no refrão de Bad romance, de Lady Gaga”, afirma a autora do estudo publicado agora na revista Psychology of Aesthetics, Creativity and the Arts, em declarações citadas em comunicado da Associação Americana de Psicologia. Tais padrões encontram-se, por exemplo, nas canções de embalar, o que, dizem os autores, as torna mais fáceis de memorizar pelas crianças.

Moves like Jagger, dos Maroon 5, um dos otovermes mais referidos, tem uma melodia que evolui de forma semelhante a Twinkle, twinkle little star, o tema infantil britânico usado no estudo como exemplo. Em ambas se regista uma subida de tom na primeira frase, seguida de uma descida na segunda. Se reunirmos a essa característica os intervalos e repetições incomuns acima referidos, como as que se ouvem em My Sharona, o clássico dos The Knack, ou em In the mood, o standard de Glenn Miller, temos um otoverme completo, preparadíssimo para a acção nas nossas mentes indefesas.

Entre as canções mais nomeadas no estudo como otovermes, há um nome que se destaca. Lady Gaga é a única presença repetida, com Bad romance, Alejandro e Poker face incluídas na lista. Fazem-lhe companhia contemporâneos como Gotye (Somebody I used to know), Maroon 5 (Moves like Jagger) e Katy Perry (California gurls). Surgem depois um clássico do rock FM da década de 1980, os Journey de Can’t stop believing, uma canção cujo título parece indiciar desde logo a sua natureza “otovérmica” (Can’t get you out of my head, de Kylie Minogue) e a aparentemente eterna Bohemian Rapshody dos Queen.

O ano passado, um outro estudo, também britânico, mas elaborado na Universidade de St. Andrews, não se propôs descobrir o que tornava uma canção um otoverme, mas identificar os maiores otovermes de sempre da música anglo-saxónica. Lady Gaga não tinha lugar na lista, mas os Queen surgiam em destaque, com We will rock you no topo da lista e com We are the champions e Bohemian rapshody em terceiro e sexto lugar, respectivamente.

 

Fonte: Público.